Para começar bem

torno público

a quem possa interessar
torno público o que sou:
criança, adulto, novo, velho, ódio e amor;
paz, luta, boca, ouvido, mãos, pés, calor;
querido, incompreendido, tudo o que sobrou;
anjo, frio, quente, morno, abraço, temor.

a quem possa interessar
torno público como estou:
feliz, triste, mal, bom, tranqüilo e agitado;
visto, esquecido, amado, odiado, errado e certo;
pulando, parado, quieto, gritando em eco;
escrevendo, lendo, ouvindo, criando processo.

Interesso tornar a este admirável público o que possa interessar
o que de interessante há, o que de belo, novo e eterno haverá

a quem possa interessar
torno público onde estou:
em mim, em você, em nós, em ninguém;
aqui, lá fora, na casa, na estrada, no além;
no circo, no teatro, no cinema sem um vintém;
em minhas idéias, e falta delas, querendo alguém.

E a quem possa interessar
torno público o que penso:
em nada, em tudo, no simples, no complexo;
em deitar, sair, cantar, brincar, mudar o velho;
tentar mudar, acordar quando o sinal é vermelho;
em esverdear, branquear meu pequeno mundo eterno.